sábado, 12 de novembro de 2011

A beleza resumida de toda a criação

Estive no centro de um campo aberto, uma pequena planície entre as montanhas onde vivo. Sempre que me encontro numa paisagem assim, eu abro os braços, levanto a cabeça aos céus e fecho os olhos. Magicamente começa a ventar. É uma invocação silenciosa, mistura de gesto e coração, e deve ser a lembrança de algum rito ancestral, pois os elementos consentem à minha pequenez humana. Ponho-me em forma de cruz e, se há sol, a minha sombra transforma-se à imagem e semelhança de um Cristo Redentor que cresce sobre a relva à medida que se aproxima a escuridão da noite. Depois, quando definitivamente escurece, eu não consigo mais distingui-Lo. Mas é assim mesmo: Ele funde-se com a escuridão para estar em toda a parte quando mais precisamos. Deita-se sobre o mundo, abrange-o todo. Por isso temos de abraçar a noite escura que se nos impõe de tempos em tempos, pois é só do mais fundo da nossa escuridão que sentimos falta da luz. Quando a escuridão parece impenetrável, um pequeno vaga-lume é já o sinal da direcção a seguir. Depois vem o sol amanhecer a vida. E é tanta a vida que nos salta aos sentidos que uma pequena borboleta a cruzar a planície é capaz de revelar em si a beleza resumida de toda a criação.

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