quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Fomos concebidos com encanto

brotarSol fraco de Inverno, mas tropa de luz suficiente para atravessar minha pele e derrotar a constipação que ainda me resta. Corpo mágico! Miríade de pequenos organismos unificados pelo que eu sou, a lutar contra o maior perigo de todos que é o de estar-se vivo! Quem sois, pequenas partes de mim, senão eu mesmo no meu mais obscuro e incessante viver? Minúsculas vidas, servas que trabalham sob a indiferença da minha atenção e que, no entanto, persistem incansáveis até o dia em que eu me for e deixar este corpo para trás por ter de levar comigo aquilo que o mantém coeso. E que sou eu. O eu unificador, aquele que é, ao mesmo tempo, todas as minhas idades nestes instantes escorregadios do meu viver. Isto que vou sendo desde que fui pela primeira vez. Não é que eu pense e, por isso, exista. Não. Penso porque fui, sou e vou sendo, acumulando sem desperdícios pela vida à fora a matéria do meu pensar — ainda que não a use inteira pois é muito este meu viver para que o viva num só instante e de uma só vez. Quem acumula, este sou eu. E quando eu me for levo comigo esta mágica que nunca inventei, mas que me foi dada sem querer de volta. Levo, sim. Fomos concebidos com encanto. E uma vez encantados, para sempre humanos.

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