Tão poucas paredes, a invenção de um lar. E uma janela para ver o mundo enquanto tomamos sossegados o nosso café do fim da tarde. Tu no meu colo. A minha mão livre a acariciar as tuas costas e a proteger-te de qualquer desvio repentino que te possa derrubar. A paisagem lá fora não nos pertence, nem nos faz falta. Chove. O teu corpo me mantém aquecido. O silêncio fez-se presente por não ser preciso dizer nada. Nem sempre é assim, sabemos bem. Os problemas nascem dentro de nós dois: uma semente de adversidade que vai crescendo até tornar-se espinho e atravessar a pele apontando para o teu corpo, para a tua parte mais sensível num instante preciso de fragilidade. É assim que um conflito nos atinge em cheio. Somos tão sós. Não importa que estejamos juntos, tu ao meu colo, a minha mão nas tuas costas e o carinho que faço nelas com os dedos leves, o beijo que nos põe em íntimo contacto e o que tocamos de eternidade quando perdemos os sentidos um no outro. Não importa, estamos sós para sempre. É o preço da nossa existência. O que temos a oferecer é mera companhia, a minha à tua solidão. Ficamos assim, a partilhar o que há de finito em nossa humanidade até a última gota. E depois? perguntas-me. Depois não sei. É uma pergunta difícil. Está para além da solidão e ao mesmo tempo intensifica-a até o limite do suportável. Chega de reflexões. Eu só preciso te ter no meu colo, destas duas chávenas de café e de uma janela para ver a chuva ao teu lado. Conheço esse teu olhar. Estás a transbordar os sentidos na minha direcção. Eu sei, e também tenho tanto a te dar. Então vem. Vamos guardar este fim de tarde dentro de nós. Agora. É impossível que fique a chover para sempre.
terça-feira, 13 de março de 2012
É impossível que chova para sempre
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