— Felicidade é isto? — perguntou a mulher.
— Sim. — disse o homem.
Ela deduziu:
— Então sou feliz há muito tempo, excepto por um dia ou outro. No entanto, se me perguntares explico-te em detalhes cada uma dessas excepções. Dos outros dias, apesar de serem mais, eu não saberia dizer-te nada. Não me recordo.
O homem sorriu, e explicou:
— Estavas a viver, por isso não lembras. Nos dias de excepção, sofrias. Era morrer demais apesar do corpo. Estavas a pensar na tua tristeza, quero dizer, em ti, no máximo em outro, tanto faz, excluías de ti, ou de ti e desse outro, todo o resto. Quando nos fechamos em nós mesmos, como quem se esconde e evita viver, estamos tristes. É um dia de excepção. Perigoso é deixar que essas excepções tornem-se regra e inverter, ainda que só dentro de nós, a ordem natural das coisas. É preciso viver o quanto antes. Agora.
A mulher pôs-se a reflectir, mas desistiu. Beijou o homem.
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