É tão difícil escrever uma crónica diária quando o que é diário estende-se para além das vinte e quatro horas e não cabe aqui. Não pela qualidade ou intensidade do que se vive, mas pelo que há de excessivo nesse viver apressado. Há a chuva que irrompe pelas frestas do horário de trabalho até o transborde, afogando os minutos excedentes que é por onde vaza a escrita antes de chegar aos dedos. Há o frio a regelar as mãos e a torcer o rosto sob a pressão do vento que o traz. E há a preguiça que daí advém para o desfecho rápido do dia e sob a qual entrego-me inebriado de realidade. Mas nada disso me causa muito gosto se não passar pelo filtro da ficção, que é quando o real faz mais sentido. E foi para isto, para tomar ao menos uma pequena dose, ainda que fraca e destemperada, que eu vim até aqui despejar este relatório tão seco de literatura. Mas foi a que me calhou para esta manhã. E eu a quis aproveitar para não haver desperdícios, que é como se deve fazer em tempos de pobreza.
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