sexta-feira, 7 de junho de 2013

Do invisível

raindrops_gotas_de_chuva_450Chuva quase invisível. Só depois de fazer força e torcer os olhos é que percebe-se quão espaçosa resolveu ser nesta tarde. Juntando uma gota e outra, a chuva contou-me: o invisível absoluto não existe. Consenti, pasmo de sabedoria natural. Para que se chame invisível é preciso que alguém tenha ao menos vislumbrado um pouco de uma sua qualquer visibilidade. Um pressentimento, no mínimo. Se o invisível permanecesse sempre invisível não haveria como nomeá-lo ou sabê-lo. Não seria. E então teríamos de o chamar de nada, mas o nada já tem nome e não seria inteligente esperar que o nada viesse a se mostrar, quando não o pode justo por lhe faltar poder, que é um dom para o que existe. Esperamos a manifestação do invisível, ansiamos que se venha mostrar de um momento para o outro. Que o deixe de ser, já que não o é de todo mas só de momento. O que nunca se mostrou, não há-de se mostrar jamais. Por isso, o invisível deve ser um estado de repouso daquilo que pode tornar-se visível mas não o faz de todo e de uma só vez para não nos confundir e explodir a mioleira. Então chove. Assim, espaçosamente. Vou no caminho que vai dar a Trancoso, sem guarda-chuva, por entre os seus espaços imensos e quase sem me molhar. Visível para quem se cruza comigo e me vê, invisível para quem nem me sabe a ir. Fora eu mesmo, quem terá razão sobre mim?

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