segunda-feira, 17 de junho de 2013

Estar só

Diziam que a doença do século passado (e continuam a dizer deste, acho eu) era a solidão. E pode até ter sido, apesar de me parecer um tanto estranho que o fosse. Mas há uma outra vertente da solidão — na verdadeira acepção da palavra, creio eu —, que é o 'estar só'. Em sentido contemplativo. Ou simplesmente o estar a exercer o ócio — esta viável contradição para os gregos. Por períodos curtos ou longos, sem companhia. No entanto, parece-me que quanto mais se exclui a possibilidade desta vertente da solidão, mais a outra, que fere o espírito das pessoas, torna-se comum e letal. E agora? pois se pergunto silêncio, para onde foste? ele não me responde — para sê-lo. Abster-se de o evocar para que ele apareça, se calhar é assim: o problema deve ser o excessivo questionamento, essa inquietação constante que reside no mais íntimo do ser humano e às vezes decide vir aqui fora passear e nos chatear a cabeça. Deixar-se estar. Esta não ação que nos incomoda imenso e nos leva a agir feito destrambelhados. Um não agir tão necessário. Além do mais, aquele que por vezes não cede ou diminui a tensão um dia arrebenta. E então, de qualquer maneira mas mais perigosamente, estará só. Talvez em definitivo. Mas aí então será já um silêncio absoluto. Será demais. Inumano. Com este é preciso ir se acostumando aos poucos. Com aquele.

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