terça-feira, 20 de agosto de 2013

Estrelas-cadentes

Fui fumar na varanda e vi uma estrela cadente. Vejo muitas, quase todos os dias, já que estou onde não há o exagero de luz das cidades. E pus-me a imaginar o trajeto que aquela luzinha possa ter percorrido até vir arder diante dos meus olhos. Mas não consegui. Ordenei à minha imaginação que criasse um sentido para o desconhecido, só para que eu pudesse imaginar mais um pouquinho o impossível. Mas o impossível também não tem fim e então fiquei com a imaginação e o pescoço estafados. A origem distante, a explosão inicial, o rolar da pedra pelo escuro do espaço nos anos-luz da sua trajetória, tudo isso para quê? para vir incendiar-se de encontro a um planeta azul franzino e cheio de gente misturada que, se calhar, ainda lhe vai fazer um pedido? De repente, em um segundo de azul incandescente, o mistério dos homens: para quê? Como se a estrela cadente fosse o homem; o espaço, sua biografia; o incêndio, a morte. Para quê? qual o sentido da sua trajetória? Dizer que se sabe não é o mesmo que um sentir mais íntimo, no segredo de cada um de nós. No entanto, nesta noite, eu fico apenas com a beleza de um azul fugaz a riscar o céu. Não preciso de respostas, hoje não. Eu queria era no meu dia ser cadente assim — só que ao invés do risco azul, um sorriso. E fechar os olhos e ver tanta luz. No último segundo, uma última contradição. E fim.

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