quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A tua mão, um prisma

Estás a ouvir a chuva? quero imaginar que sim. Que estás à janela e tens o rosto inclinado, o vidro embaçado com a tua respiração, o teu dedo a fazer círculos e as luzes dos candeeiros finalmente conseguindo alcançar-te em brilho, a tua mão um prisma. Olha-as e pensas: «Não estão molhadas, mas parece.» Simples assim, como são os pensamentos mais íntimos. A complicação dos gestos, das palavras, com certeza que dispensávamos tudo isso se não nos interrompesse o temor do ridículo. Ridículos são os outros — pensa assim. Mas não sei no que pensas, não tenho dados. Só a sacana imaginação. Então imagino. Livre. Uma hora de liberdade até que o real me bata à porta dos dedos e berre: «Chega! Estás a te passar ou o quê?» Consinto, como não? Isto que escrevo passa ao largo da vida. Da minha, da tua, da dos outros. Passa. Torço para que não, muito pelo contrário. Mas fico-me por aqui, a imaginar. Só mais uma coisa, porque dela depende a verosimilhança: nem tudo, quase nada, mas a chuva é verdadeira. O resto é liberdade. 

Sem comentários:

Enviar um comentário