A tua criação se deve ter dado há pouco, um dia destes. Um vulto que passou e então foi tomando forma. De repente, um vislumbre. Um sorriso que atravessa a estrada e esbarra nos meus olhos, uma visão que irrompe a monotonia e faz tremer a paisagem. Passaste. Encolheste até desaparecer num ponto ao longe. Cedeste ao império do espaço, como é devido. Um carro passa ao meu lado e o mundo retorna em crescente desde a distância para onde me tinha carregado a atenção. O foco ajeita-se como pode e agora são árvores, luz, sombras, pedras, eu. E tu? Enceto passos com certa dificuldade mas adianto-me, ainda que com algum vagar. Tenho de seguir. Fixo duas setas de ver no lugar onde desapareceste. No horizonte cheio de curvas, incerto, desenhado a mão livre: ao invés de linha reta, montanhas que tentam enganar o poente, montes de lâminas prontas para o corte do sol quando for a hora de ele fraquejar. Sigo. Tento fazer crescer aos poucos um ponto ao longe, que foi onde encolheste até a fraqueza da minha vista. Agora. Desde a tua aparição, o meu ponto de fuga.
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