domingo, 16 de fevereiro de 2014

A palavra transparente

Ouviu um tilintar e foi ver o telemóvel. Nada. O evento repetiu-se três vezes, e três vezes olhou para o aparelho. Nenhuma notificação. Foi quando, sem querer, acabou por balançar com mais força a mesa do café e descobriu: com o movimento, o copo vazio tocava na garrafa de sumo e tilintava. E pensou: «Já se foi o tempo em que as coisas se tocavam e não queriam dizer absolutamente nada. Tilintavam, e só. Hoje em dia tudo pode ser mais alguma coisa. Desdobramentos de sinais. Esperas. Surpresas. Excesso.» Então chamou a menina do café para que lhe esvaziasse a mesa. Depois, enviou uma mensagem vazia, sem texto, para todos os números móveis da sua lista de contatos. Quem compreenderia aquela mensagem e leria a palavra solidão que ia ali transparente? Mas a mesa agora estava vazia. Não havia nada que pudesse tilintar. Nada tilintou. Absolutamente.

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