segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Come alguma coisa, caramba!

Todos os domingos, minha avó e mãe vão ao café de Trancoso depois do almoço encontrar com o restante da máfia idosa da aldeia. Ficam lá a contar piadas, a rir umas das outras e sabe-se lá mais o quê. Nesse dia eu vou sempre mais tarde, pois o café fica muito cheio. Eu entro, dou as «boas tardes» e enquanto vou andando até o balcão a minha avó lá da mesa dela:
— Pede alguma coisa pra comer.
— Estou sem fome, vó. Almocei faz pouco tempo.
— O quê?! Comeste há horas! come alguma coisa.
— Não quero, vó. Estou cheio.
— Cheio de vento, só se for. Pede.
(Todo o café a virar as cabeças alternadamente para a minha avó e para mim.)
— Quero não, obrigado.
— Uma tosta mista, pede...
— Não.
(Vira-se para uma velhota e diz:
— Olha, o Farruco é a mesma coisa, quase não come. Nem sei como se aguenta em pé, rai's parta... O meu neto e aquele cão devem ser santos que isso é milagre.)
— Um pãozinho com fiambre e queijo...
— Não, vó.
Chego ao balcão, ou seja, a minha avó lá do fundo:
— Umas torradas!
— Não, não.
— Come alguma coisa, caramba! Vai-te dar uma fraqueza qualquer dia destes.
— Oh! exagero, vó...
— Meia torrada...
— ...
— Nem meia torrada?!
— Hááááá!!!!! faz meia torrada para mim, pelo amor de Deus!

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