E se eu proclamasse aos quatro ventos a cor do teu vestido amarrotado no chão da sala? Ainda assim não te entregaria aos ouvidos alheios. Não. O teu nome é outra coisa. Está para cá dos outros. Prometo não deixar que ponham as mãos por debaixo da nossa pele, que é onde estamos: o teu nome e o meu, ditos em uníssono. Quantas vezes tentamos dar a vida um ao outro com o sopro trocado do nosso espírito? Dissemos coisas sem sentido e foi tanto o que dissemos em nossa língua inventada. Estás a dormir, ainda. Fechamos as cortinas e pronto: o mundo não existe além do nosso segredo. E se há um vestido no chão da sala é porque não precisas dele para seres tu mesma. Eu preciso dele em ti. Não podes ser tu tanto tempo sem que me firas os olhos. Não digo a cor do vestido. Não estás nele. Estivestes antes, mas isso quando não tivemos tempo para dizer oi tudo bem. Digo-o agora para a tua paz, para os teus olhos fechados, para os teus lábios de satisfação, para o teu corpo sobre o mar dobrado dos lençóis: «Oi, tudo bem?» Esfregas os olhos com os punhos e dás a luz um sorriso. Não digas nada. Ainda não terminamos de criar o mundo. Temos tempo.
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