Dei dois beijinhos no passado, um em cada lado do teu rosto — e nós, cada um para um lado no destino. Surpreendeste-me sob o plátano e quase tropecei para trás no tempo. Confesso-te: perdia-me com gosto nos pecados que me foram insinuados ao ouvido, mas o futuro haveria de nos condenar e eu não quero a tua condenação. Fizeste o que tinhas de fazer e foste embora. Eu fiquei a olhar para o Largo de Trancoso do meu presente. É falso, este lugar. Não confere com o da minha imaginação. Pois neste, tu ainda vens pelo Caminho das Lousas e o nosso querer não conhece o entrave da condenação. Os teus olhos conferem com os meus e em seguida baixas a cabeça, tímida, enquanto eu vou contando a distância que diminui na progressão dos teus passos. Mas quando estás a um abraço meu, a imagem se dilui e volto para a minha ficção: o Largo de Trancoso do futuro. Era para ser o mesmo que o teu, mas não: eu tive que o dividir em dois e ficamos cada um com um pedaço da minha decisão. Então deste-me dois beijinhos, fizeste o que tinhas de fazer e foste embora para o meu passado, de onde eu acabo de voltar.
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