Os teus olhos são verdes ou azuis? Finjo que não sei para que a dúvida nos proteja. Não te irrites com o meu falso esquecimento. Perdoas-me? Olha, façamos assim: são olhos da cor do mar, mas eu não digo qual nem a que horas. Vejo que estás a sorrir. Chegou-me aqui a tua risada: ondas de carinho do teu mar calmo nos ouvidos da minha imaginação. Hoje resolvi passear pelas ruas da memória e cheguei ao sítio onde vivias. Vejo a tua casa imóvel no tempo e o nosso lugar vago no quintal. A tua rua está vazia de nós dois, há muito tempo. E o bairro lá em baixo permanece iluminado pelos candeeiros a mercúrio. Estou só de passagem, mas pensei que devia deixar por aqui um sinal da minha visita. Não te esqueças de ires também visitar o bairro alto da nossa lembrança comum. Faz como eu: senta-te por instantes no quintal, escuta os insectos da noite e faz repentino silêncio: não ouviste? pareceu-me o som de passos. Era engano, estamos sós. Depois levanta-te e atravessa a rua para veres o bairro a dormir lá em baixo. Será que estás também a dormir, neste instante? Se estiveres, eu tenho já a minha desculpa para não lembrar da cor dos teus olhos, mesmo a fingir: como posso vê-los se estão fechados?
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