domingo, 15 de janeiro de 2012

O galho de eucalipto

DSC01325O Farruco levantou-se da cama quadriculada de sol e sombras e foi deitar-se em cima de um grande galho de eucalipto que eu tinha deixado estendido na varanda dos fundos. Que passos lentos e preguiçosos são esses, cãozinho? A tua sesta foi interrompida por um chamamento: a irresistível aura esmeralda do perfume do eucalipto sobre o qual foste deitar, e que mantinha ainda um pouco de névoa a embranquecer as costas das folhas desde antes do corte. Não, Farruco, não fui eu que arranquei o extenso e magro galho de entre os seus. Já estava estendido no caminho, um caminho de eucaliptos e pinheiros enfileirados, testemunhas gigantes da minha passagem, solitário, a chutar pinhas e a estalar folhas pálidas com os meus passos, sem outra ocupação além da de assistir o espectáculo da natureza convulsionada pelo vento. Vi-me na base de um triângulo sem fim, caminho em linha recta a afastar o horizonte para sempre, a cada passo. E pensei: «Será que o horizonte existe?», mas não era hora para pensar demasiado. Era hora de silêncio expectante. As árvores são instrumentos verticais de sopro para a execução do vento, são flautas dançantes. É tão feio falar durante os concertos. Apenas fui, e não me recordo bem de como nem quando voltei — será que voltei? quanto de mim lá ficou? Lembro-me apenas de ter um galho de eucalipto ao colo. Dorme, Farruco. Vejo daqui os teus olhos fechados. Os pêlos do teu focinho vibraram com um suspiro de desligamento, adeus mundo imenso! Vais sonhar com os montes. Vais correr a procura do mesmo horizonte que eu vi, e que não tem fim. Mas não deixa de ouvir a música, Farruco. Não faças uma desfeita dessas ao vento, que não foi essa a educação que eu te dei.

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