segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O silêncio das folhas

O vento anuncia a Primavera já quase à porta. Eu sigo sobre as pedras do caminho numa velocidade que julgo ser a minha e deixo para trás o som curto e logo desaparecido dos meus passos. Muitas folhas — pequeninas, disformes de velhice, secas de paisagem — vêm na minha direcção. Riscam o chão como se fossem forçadas a prosseguir contra a vontade e agarram-se às pedras com as unhas que não têm. Tentam impedir a força do vento. Inútil. É hora de se deixar levar, seja para onde for. Há uma hora assim. Pode não ser para sempre, pode ser o cansaço, mas pode ser também a hora de estar-se aberto ao mundo. Ou de apenas não atrapalhar a sua espontânea e salutar intervenção, as possibilidades. Era um vento morno, forte e trouxe-me à lembrança tantas coisas. Dentre todas ficou-me a certeza de que o passado, por mais que tenha sido bom e a nostalgia se revele por meio de sorrisos, não é suficiente para alimentar este presente voraz. Voltei atrás e disse às folhas deixem-se levar, deixem haver algo de inesperado no passado que vamos inventando de instante a instante para a recordação futura. Que seja assim todos os dias. É claro que elas não responderam, são folhas. Ou melhor, responderam-me com o silêncio de que eu precisava e nem sabia.

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