domingo, 26 de fevereiro de 2012

Sai, mas fecha a porta

Sai, mas fecha a porta. Não deixa a minha vida entreaberta. Basta uma fresta para que a tempestade encontre um caminho e venha para dentro o vendaval. Deixa que o último movimento do ar seja o da tua despedida, o da tua mão que acena, os teus cabelos que fazem um giro de partida para acompanharem a nova direcção dos teus passos. Não me custa nada, enganas-te. Sinto-me até aliviado. O bater da porta será o toque da mudança e vou varrer os vestígios inúteis da nossa ficção inacabada, vou quebrar os porta-retratos, os jarros de flores, os móveis, qualquer outra coisa onde o reflexo da nossa imagem possa ainda persistir mesmo que invisível. Os objectos guardam-nos com eles. Basta um olhar e lá estamos nós a saltar à vista da lembrança. Vou varrer todos os pedaços para debaixo do tapete do teu nome. E quando tudo estiver arrumado em planura e escassez de coisas, a tempestade terá passado. Só então eu farei das janelas os olhos da casa e da porta um sorriso aberto. Será num domingo. Será na Primavera. E uma flor terá nascido no impossível espaço entre as pedras do muro antigo que separa o meu do mundo novo que decerto vai existir adiante. O muro que vou ultrapassar com a flor na mão direita junto ao peito.

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