quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Um carinho em nós dois

A Ursa Maior, tão fácil de encontrar; a Ursa Menor está ali, mais para o lado, tão singela; Vénus exibe seu luzir intenso, fixo, sem o bailado de setas de luz por ser um planeta, quero dizer, um mito; Marte? a confundir, como sempre; tudo isto mais a memória recente do avistamento do céu ao teu lado, memória mais intensa do que todos os luzeiros celestes de mãos dadas. Quantas vezes os nossos dedos comandaram as estrelas desde o nosso observatório privado na varanda dos fundos? Fui até lá agora há pouco e estavam tristes como o Farruco e eu. Não te contei? Hoje ele andou de cómodo em cómodo à tua procura. Parava, meio perdido, em cada um. Olhava em volta e chorava baixinho por não te encontrar. Eu disse não fiques triste cãozinho, e chamei-o para perto de mim. Ele veio muito lentamente, de cabeça baixa. Não quis as festinhas que ofereci e deixou a minha mão pairando no vazio de nós dois. Deitou-se sobre os meus pés e ficou a olhar para o entroncamento. De vez em quando suspirava. Ele não queria, mas fiz-lhe um carinho na cabeça assim mesmo. Na verdade, foi um carinho em nós dois.

(05 de Fevereiro de 2012)

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