Olá! Vamos ao Senhor dos Aflitos, sim. Siga por ali, viras à esquerda e agora é sempre a subir. Chegamos. Está frio mas trouxeste um casaco, que bom. Vamos até à beira da estrada ver um pouco deste meu mundo. Pode até ser que a cada dia faças mais parte dele, de uma forma ou de outra, quem sabe, mas deixemos de especular. A esta hora não há estrelas nem as luzes da aldeia estão acesas, mas o verde embaciado, aperitivo para os olhos, mostra-se bem e tanto faz. O que me importa a aldeia e os seus atractivos? E a paisagem bucólica, para quê? Tenho ao meu lado a alegria. Tu estás comigo de maneira inesperada e sinto-me um pouco perdido de espanto. Perguntas-me: «Onde está Trancoso?» É ali adiante, vês? Aqui em baixo é Miudal; para lá é a Igreja, o cemitério e tudo o mais que cabe numa aldeia. O resto é espaço para reflexão. Já estou novamente a falar da paisagem, apesar de ter a impressão de que não tens tempo e vais embora a qualquer momento. O que eu disse! Já estás de partida que são horas. Há também o gelo que logo vai envidraçar o alcatrão e todos esses detalhes naturais que existem para apressar as pessoas. Que pena. Reparaste que nem conversamos? Ficou-me uma frase por ser dita e um gesto por fazer.
O gesto que não fiz eu vou deixá-lo para o futuro à partir de hoje: era um abraço com os olhos apertados de encontro aos teus cabelos.
A frase eu a vou dizer neste já futuro daquele dia: eu vi não sei bem se o azul do céu, se o azul reflectido no mar atrás das janelas do teu rosto ou se a beleza de dentro a acendê-los e a expandir-se para fora. Não sei bem? Sei, sim: era tudo isto, ao mesmo tempo.
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