quarta-feira, 28 de março de 2012

Fala-me da tua língua

Os carros passam. Fazem som de mar. As ondas dos teus cabelos dançam com a maré de vento. Ouves além dos ruídos? Usa a imaginação que te venho dando há tempos, que venho dividindo contigo sem que ninguém saiba. Não percebeste qualquer imagem súbita? Não foste acometida por memórias que não são tuas? São as que inventei, para que existisses em mim. Um toque no rosto, meu adeus. Não sentiste? Ouço uma canção que diz «As the world is soft around her», um verso a mentir nos meus ouvidos. A suavidade passa-te ao largo. O mundo atravessa por dentro de ti e vai estourando os vestígios de paz que por ventura ainda encontre, deixando-te à flor da pele; e leva embora, à força, as tuas horas. Para onde vais? Todos os lugares são longe. Sossega. Aceita o impossível. Dói menos. Sente a maré do vento nos cabelos, fecha os olhos e ouve os carros na estrada. Há música, farol a guiar-te para o mar da nossa invenção. Vem. Vou estar à tua espera, os pés enfiados na areia. Vamos lutar contra as ondas que fazem correr o mundo para nos arrastar, para nos engolir escuro a dentro. Vejo sal no teu pescoço, dá-me? Corta o espaço com a tua voz e não te importes, ninguém há-de te ouvir. Se te ouvissem, não te iam entender. Só tu. Fala na tua língua, para o teu entendimento ou para a falta dele. Fala-me da tua língua. Mas fala-me para dentro. Há uma resposta em nossa pele, sei que há.

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