O pêlo negro do Farruco está salpicado de pôr-do-sol. Meteu-se entre dois vasos de orquídeas — uma rosa, outra castanha. A luz de adeus do dia passa por entre as folhas e desenha manchas de ferrugem celeste na sua maciez escura. Farruco nem dá por isso. Está de orelhas em guarda, a cabeça rija na direcção da varanda mais alta da casa da dona Maria José. Os seus três cães — Tuca, Kiko e Sebastião — andam de um lado para o outro a rosnar. Têm olhares insidiosos. O Farruco, muito atento, pensa: «É gato» E põe o corpo em alerta. No entanto, há fogo nos montes da Chã e um helicóptero mete-se na cena a fazer imenso barulho. Traz água ao colo para despejar em alívio. Os cães acompanham toda a trajectória, olham para o céu. Enquanto isso, com habilidade e silêncio de fuga, como se fosse invisível, um gato preto atravessa, retesado, toda a extensão entre o meu e os outros cães. Foi-se o gato. E depois o helicóptero. Os cães deitaram-se, esquecidos. Anoiteceu.
sexta-feira, 30 de março de 2012
Fogo no fim de tarde
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