
«Rir para não chorar» dizem-lhe. E ri para os outros e até para si mesma, mas é um riso que vem de cima, de fora. Depois segue adiante e atravessa a multidão impessoal das ruas, rostos sérios, todos com pressa, expressões que fazem duvidar da existência do mundo. «Sou assim. Atravesso a avenida como quem faz imensa força para não se deixar partir em dois.» pensa e esforça-se para conter uma lágr «Não. Não vou chorar. Hei-de ser forte.». Quando dá-se conta, não sabe onde está. Entrou numa rua ao engano. Ou em duas, não sabe. A rua não tem saída, está vazia, suja, e duas peças de roupas íntimas, já rotas de muito uso, estão penduradas no estendal da varanda de um quarto andar. Olha tudo em volta e depois, esgotada, senta-se, larga-se no chão: «Era o que me faltava! onde estou?» mas em seguida começa a rir «Era aqui que eu devia viver» e ri a ponto de soluçar, mas baixinho para não partir em dois. Para ser forte. Tinha de ser.
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