Fiquei duas semanas sem vir à aldeia, então o Farruco quase teve um treco no coração de tanta alegria ao me ver. Rodopiou, saltou, latiu, pinoteou e grudou em mim até expulsar a minha para pôr a sombra dele no lugar.
Sempre depois do almoço eu preparava um café e o Farruco punha-se em alerta, sentado ao pé de mim, para ir fumar comigo à varanda da frente e ganhar os carinhos que eu costumava dar com a mão despreocupada. Minha mãe contou-me que, durante estas duas semanas, quando ia preparar o café dela e da minha avó, o Farruco sentava-se ao lado, olhava para cima e para a porta da cozinha e chorava baixinho a sentir falta daquele nosso ritual diário. Depois deitava-se ainda aos choramingos.
Que carinhoso o nosso cãozinho. Comove-me.
Agora, quando eu ia já a sair de casa, ele foi deitar-se enroscado. Voltei. Sentei-me ao seu lado e fiz-lhe uns carinhos lentos como a minha vontade de o deixar. E disse-lhe até logo. Levantei-me. E enquanto fechava a porta de casa a imagem do Farruco também se ia fechando entre o vão. Tínhamos os olhos calmos e fixos um no outro. Inevitável. Tranquei a porta. Desci as escadas entre vento e som de passos. Mas trouxe comigo um pequeno sorriso de comoção; e guardei-o no bolso esquerdo para as necessidades da semana.
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