Não és dura e fria como pareces. Finges bem o que te vai pelo espírito — concordo, mas não me convences. Esse teu ar de mistério entremeado por frases que deixas a meio para enfatizar a tua falta de inocência, para mim é um modo de dizer às avessas: «Sinto-me só. Nem má acompanhada estou.» Desculpa-me, mas tenho de te dizer bruscamente, com uma sobrancelha arqueada de espanto: estás enganada! O mistério é o modo mais antigo de provocar desejo e os pecados o modo clássico de encurtar compromissos. E os teus, pelo que me dizes, são doces. Mas tu tempera-os em excesso para que pareçam demasiado picantes. Repito: «São doces» Beiram a inocência de quem pecou sem saber que havia ali pecado a imputar. Se usas do teu mistério, queres atrair; se pões na mesa os teus pecados como quem joga um trunfo deixas já um adeus pormenorizado e garantido no fim para aquele que trouxeste ao jogo. Estás só, mas por opção. Queres alguém e não, ao mesmo tempo. Custa-te a liberdade, percebes a incompatibilidade dos que estão à tua volta, desfilas na tua mente os defeitos dos que te rodeiam e são defeitos que não têm fim e nunca vão ter a não ser que. Só há um fim para as falhas, os erros, os defeitos, e esse fim é a morte. E essa vida a pulsar nas tuas mãos? o que vais fazer com ela? Respira. Calma. Posso ouvir daqui o teu coração acelerado pelo bater da dúvida. Apazigua o teu espírito. Dizem que viver é fácil, mas é mentira: nada mais difícil. Ser é ter problemas. Então sê tu mesma! Não percas a tua vida responsabilizando, culpando os outros. Podes oferecê-la por aqueles que amas, mas não penses em cobrá-la de volta e com juros que a vida quase sempre deixa um saldo negativo na conta do tempo de quem a ofereceu. A nossa sorte é que, acima da vida, maior riqueza é o amor. Então, antes de tudo, ama a ti mesma. Sê rica. Senão, o que vais possuir de valor para dar aos outros?
sexta-feira, 4 de maio de 2012
O que vais oferecer aos outros?
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