quinta-feira, 10 de maio de 2012

Por que insistes?

imaginacao_vs_realidade-4Por que insistes? Não te cansas de estar sentado à beira do caminho entre o imaginado e o concreto? Achas assim tão difícil estender um braço para cada lado, agarrar os dois e os trazer ao peito para que sejam um em uma única e tua expressão? Há um espaço reservado para ti em algum lugar, mas ninguém sabe onde fica. É risco imenso um movimento precipitado; mas o da inércia também — e este é ainda pior, porque a sua realização é não ter realizado coisa alguma. É o vazio, e o vazio só existe quando falta algo que o deveria preencher, algo que já ou ainda não há mas que deveria haver. A não ação é um abismo que tem no fundo remorso empoçado, areia movediça que agarra irresistivelmente e cuja lei é a inércia absoluta até o abafamento. Não te iludas, não mais uma vez. Respeita a correnteza, mas não dês descanso aos braços, não até escolheres em qual das margens deves descansar. Depois vai. E nunca, mas nunca mais olhes para trás. Os teus olhos foram postos na tua fronte, e não sem motivo. Ainda assim, mesmo sendo teus, esses olhos são a única coisa para a qual não consegues olhar à partir deles próprios, a não ser em reflexo. Mas nem a tua imagem, aquela que vês refletida, tu consegues reconhecer como sendo tu mesmo, de facto. Digo-te: começas ali, mas vais muito além do que os outros veem. E um começo é apenas a força do primeiro passo — e além disso, se for um passo para dentro de ti, o primeiro será sempre muito curto e cheio de cansaço e má vontade. Estás cansado. Tão cansado que já nem sabes ao certo de quê. «De tudo!», dirias. Mas não dizes. E esse teu não dizer diz mais do que muitas palavras. Só que ninguém está disposto a ouvir através do teu silêncio. E se calhar fazem bem em fingirem-se surdos. Fazem sim, que o sabes.

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