Há duas semanas que não conversamos, Farruco. Não tenho nada de novo para te contar além do meu espanto diante de uma tarde de sol. O vento morno a balançar o cabelo, o carro que faz volta à rotunda com o seu motor que vem e vai em auge e decadência de volume. A mulher que está sentada na mesa ao lado e estuda um grosso livro sobre estética e que se esqueceu do cigarro na mão esquerda levantada à frente do rosto. Um cigarro cuja cinza é um frágil anzol que foi talhado no tabaco que já ardeu. Quem sabe se para fisgar a atenção que ela precisa. Tudo isto é fundo para este meu espanto, Farruco. Eu me poderia perder do mundo enquanto o observo, se me deixasse levar. Que contradição, meu amigo. E ainda assim percebo que estou no meio disto tudo. Pequena mas imprescindível parte. Para que haja sentido na natureza. Para que haja comoção num homem que por ventura esteja sentado numa esplanada de café.
domingo, 22 de julho de 2012
Fundo para o meu espanto
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