Por que estás a latir tanto, Farruco? Ah! Um touro! É da raça Arouquesa, meu amigo. E que tamanho e força! Olha bem quanta imponência, ainda que esteja perdido a atravessar à frente da nossa casa que não é lugar de costume para essas travessias. Cada músculo a mover-se sem pressa, o castanho claro do seu pêlo a dobrar-se, o toc toc dos cascos a contar distância nas pedras. É um mito de olhos tristes. Deixa-o passar Farruco, pára de latir. Ele há-de acabar num restaurante e um turista qualquer, que nunca o viu, há-de comer a sua carne e refastelar-se em gordura loura e encarnada. Sossega. Ele não está interessado no teu território, cãozinho. Há o muro baixo e as grades para a nossa tranquilidade e que garantem o nosso quinhão da natureza. Lá vai ele, Farruco. Vai dobrar a esquina. Já só vejo a sua cauda num balançar ritmado de pêndulo. Anda cá, meu amigo. És valente. Tu ficas a tomar conta deste quintal da nossa ficção e ele… Eu já não sei até quando. Deixa-me ir escrever sobre o touro, Farruco. Talvez assim, quem sabe, ele possa existir mais um pouco na imaginação dos outros.
domingo, 8 de julho de 2012
O touro
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