Dia suspenso, ruas vazias. Um carro passa. Só depois de muito tempo, outro. Há alguém que olha na minha direção, eu sinto. Então as duas pontas de uma extensa linha invisível agarram-se num e noutro olhar de um lado ao outro da rua. Súbito silêncio. Espera. Ajustamento do foco. E a tua imagem pequenina na minha retina sob a pressão da distância. Também na tua, a minha. Três segundos. Dois. Um sorriso mútuo. Comprova-se a existência de um mundo recém criado, mas prestes a se consumir num adeus eminente. Então a linha solta-se, arrebenta-se num brusco estalido. Um carro. Parou entre nós dois. E outro. E muitos. A minha cabeça desvia pelo ar, mas o metal dos automóveis vinha afiado em ocultação. Três minutos. Dois. Um pouco de falsa eternidade. Os carros desfazem-se em movimento e o último deixa para trás um rastro de poeira para o lento assentamento da minha suave aflição. Súbito silêncio. Os meus olhos de uma ponta a outra do horizonte do teu lado de rua. A tua ausência. Distância absoluta que nos separou em duas partes iguais de futuro esquecimento. Pensei meu adeus. Um adeus que não chegou a crescer até o tamanho de um gesto.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
Duas partes iguais de futuro esquecimento
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário