sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Todo o resto pode ser engano

PapelamassadoInício da noite. Ouço o som da televisão do café. Chega-me, aqui fora, abafado, grave. Algures, um pássaro pia ritmadamente. Só. Grilos tocam os instrumentos afinados das pernas: noturno em mi menor. Luz em néon desce do céu e dá o tom da paisagem. O vento fresco e suave faz dançar os fios de cabelo mais frágeis. Dança lenta. Eu, sentado numa esplanada escura de café à beira de uma rua quase deserta, aplaudo a natureza. Só. Comovo-me, enovelado em recordações de infância. Lembro-me de uma das minhas certezas invioláveis: eu trago comigo o mundo todo num lugar sagrado que tenho dentro do peito. O meu lugar mais seguro. Onde sou mais eu. E digo para a noite: fora isso, todo o resto pode ser engano.

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