O dia foi-se apagando, mas antes do negro cobrir inteiramente o quarto veio-me à memória outros muitos fins de tarde quando eu ainda no Brasil. As tempestades de Verão, diárias, homéricas... Nuvens escuras e baixas que se iam juntando no horizonte com estardalhaço para vir tomar o céu mais para perto sempre mais rápido do que se supunha; os raios que iluminavam o quarto de uma luz insuportável para os olhos, que se fechavam de susto, toda a nossa humanidade encolhida para dentro. Então os primeiros pingos sofriam nas janelas, esmagados pela ventania. Um raio espetava algures um estalo que deixava em seguida um rasto de silêncio, como deve ter sido o do Génese após o estouro da criação. E a natureza dizia tudo o que tinha para dizer. Depois recuperava o fôlego, abrandando a respiração, e abria uma fresta para que o sol tocasse dedo por dedo o solo em sinal de alívio. E por fim. Por fim a natureza sorria-se num arco-íris a dizer-nos não foi por mal. Mas no dia seguinte esquecia-se. E nós também, o Verão inteiro. Todo ele, hoje, na minha memória.
domingo, 3 de março de 2013
Homéricas
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