quinta-feira, 2 de maio de 2013

A cidade não dorme

SEGREDOAcendo um cigarro à janela da cozinha. Os prédios, as ruas, a rotunda. Um carro passa e arranha o alcatrão. Um carro branco, para mais intenso contraste. Bato as cinzas, travo no fabrico de mais, o fumo espalha-se, eleva-se, desmancha-se. Duas janelas acesas à distância de um edifício. Quem sois? Imediatamente, uma delas se apaga. As cortinas da outra balançam. Furtiva mão que abre uma fresta entre nós e esquiva-se de volta à sua noctívaga privacidade. Viste-me, sombra irreconhecível à luz do dia? É provável, pois invadi o teu íntimo com as setas que desprendi dos meus olhos na tua direção. Fizeste-me o mesmo. Guardemos segredo, já que partilhamos este mútuo anonimato. O cigarro a torcer-se no cinzeiro, um último suspiro a espalhar-se, fugaz fumo branco, o calor em silêncio. Que mentira dizer que a cidade dorme.

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