quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Bem vinda madrugada

DSCN1846Com o que estás sonhando, Farruco? Olho para ele: estirado, de lado, no chão. A barriga aos sobressaltos, a cada soluço um pequeno latido. Meu cãozinho, a aspereza do mundo só encontrou essa fresta para te alcançar. De resto, a tua vida está toda protegida. Não te aflijas. Estamos aqui para te alimentar, para matar a tua sede e te encher de mimos e brincadeiras: frutos da tua inquebrantável fidelidade. Levanto-me. Vou sentar no chão, ao lado dele. Dois carinhos e livro-te da tua aflição, vais ver. O teu corpo logo amolece e mastigas um pouco de vazio, teu sinal de satisfação. Volto à minha cadeira, não muito longe. O Farruco levanta-se e olha-me seriamente, muito em paz: gosto de ti — ele pensa para mim. Retribuo pensando um sorriso que se me escapa dos meus para os olhos dele. Ele então vai para o canto da cozinha. Deita-se todo escarrapachado rente à porta que dá para a varanda. É o seu ar-condicionado. Vem a noite fresca ali por baixo, em namoros salientes com o mármore que dá as boas vindas para quem chega. E suspira aliviado, livre dos pesadelos. Veio a madrugada. E nos encontrou com uma paz assim, desse tamanho.

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