quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Está escuro e não sei onde estou

Não sei onde estou. Está escuro. Tenho os olhos fechados, não sei. Estou em mim, recluso, mas quem eu sou quando estou a sós comigo mesmo? Ouço tantas vozes. Sou esse, o que ouve? Mas quando o digo já o deixei de ser para ser um outro que o diz. Sempre às voltas. Quero abrir os olhos, mas receio que, se o fizer, vou dar com o mundo e então serão as minhas com as tantas outras vozes. Confusão. Posso perder-me demais. Deixa. É melhor estar confuso comigo mesmo do com isso e todo o resto. Não abro. Mas não quero ficar cego. É preciso algum poder de decisão. É preciso poder perder-se quando julgar-se necessário. Para sentir falta de estar-se consigo mesmo, por mais que seja ainda muita a confusão. Às voltas. Sempre de volta para o meu íntimo. O íntimo que deixa de o ser por ser preciso que o diga. Tudo bem. Por isso tenho guardado em mim muita confusão. Como quem junta desordenadamente tralhas em uma gaveta, mas sabe exatamente onde encontrar cada uma delas se necessário. Se a confusão for só a nossa haverá sempre alguma ordem por onde nos socorrermos. Então mantenho os olhos fechados. Como quem baixa sobre si um decreto. Está decretado: está escuro. Deixa.

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