quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O mistério que se leva às costas

Sei que estou guardando na memória os cheiros, as imagens, os gostos, tudo que vou sentindo neste meu agora. Um dia, não sei quando ou se, um deles há de vir à superfície do que serei, junto de um sentimento qualquer que ainda não sei como o vou sentir. Um impacto, um repentino puxão para dentro, para abaixo, que é onde guardamos a saudade. E um cheiro. Quem sabe se esse que senti agora há pouco, forte e terreno, o cheiro de uvas que foram pisadas há não muito? Quem sou eu? se parte de mim trabalha já os sentidos para um futuro que ainda desconheço? se nem sei o que de hoje me vou lembrar? eu, que já me esqueci do que fiz ontem? Que loucura ir sendo sem saber o que se leva. Sem nem saber se chegamos lá a tempo de descobrir o que fomos. A tempo da nossa própria revelação. E ter der ir, assim mesmo, com esse imenso mistério às costas.

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