quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O pinheirinho

Anda cá, cãozinho, deita-te aqui ao meu lado. Vês aquele pinheirinho ali no quintal? Está seco. Vestiu-se de castanho, mas não foi por causa do outono. Tão pequeno e ainda dentro de um vaso pequenino, morreu. Porquê, Farruco? Teve água e mais todos os cuidados que lhe eram devidos, mas já não é o primeiro que não vinga. Calhou-lhe a estação que condiz com o envelhecimento da natureza. O que queres, meu amigo? festas na tua cabeçorra? Falo da morte e só pensas no teu próprio sossego? Olha, tu fazes bem. Não tens metafísica por debaixo dos pelos. Aliás, nem o pinheirinho. Morreu, e só. Nós, os homens, é que inventamos a metafísica para justificar a nossa incapacidade para compreender o mistério da vida. É tão simples, não é, Farruco? Vem um dia como outro qualquer e morre-se. Tudo segue na mesma, é assim. Então chega mais para perto, vem. Toma lá as festinhas. Estamos vivos, e ainda é cedo para nós dois. Para tantos. O nosso inverno ainda não chegou. E até lá, amigo, que não exista nada além de calor na nossa imaginação.

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