segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Aniversário da minha avó e outras eternidades

Hoje a minha avó faz 86 anos. Quanto tempo, Maria do Céu. Lembro-me de outro dia, quando faleceu um senhor de Alvarenga, conhecido da minha avó, e ela disse:
— Tão novo, coitado. Morreu.
— Era novo, vó?
— Era! 75 anos!
E, de fato, para quem tem 86... Qual a medida correta da juventude? A corporal não é de se fiar, todos sabem, mas é por esta que geralmente medidos também a idade do espírito, o qual, por definição, é imortal. E ser imortal é ser jovem para sempre. Mas então descemos do eterno para vir contar os anos de um corpo descartável nesta terra e vida cheios de defeitos. Minha culpa. Eu, Adão reciclado em milênios por condições adversas. Eu, que já não me lembro de ter errado quando tudo começou. Eu, que comecei a desfiar a história da humanidade naquela manhã de sol e segui desfiando pela tarde fresca à sombra de uma árvore. Desde então tudo tem fim, pois há de cair a noite sobre todo aquele que viu o dia nascer. Para que o dia que um dia começou se cumpra por inteiro e sare essa ferida na eternidade que é o tempo. Até lá, sob sol ou chuva, fazemos bem em comemorar cada novo ano de vida. Menos um ano, que seja. Tanto faz. Afinal, somos tão jovens quando dizemos, desde o coração, 'para sempre'. Se calhar, há de ser.

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