Fui dar uma volta noturna pela aldeia e uma alvíssima névoa que vinha do Fundo da Vila me encontrou pelo caminho. Saudou-me. Eu ia pela estrada, sozinho, aí parei e disse-lhe oi, num sorriso, sem abrir os lábios. Ela passou a sua mão de chuviscos no meu rosto, acariciou-me, e me escondeu de todo o resto. Ficamos só nós dois. Eu e a névoa. Nenhum carro passou, som algum se ouviu. Eu estava dentro de um círculo perfeito úmido e escuro de chão, envolvido em suave alvura. Se eu não conhecesse bem a natureza era capaz de dizer que tudo aquilo era magia, mas conheço-a e por isso sei que era apenas o tanto de um mistério. Então, subitamente, a névoa desemocionou-se. Inventou uma pressa que não sei e passou por mim depois de me olhar com um adeus miudinho nos seus olhos brancos. Despedi-me, pegando o meu sorriso de volta. Mas ele não coube nos meus lábios fechados e tive de abrir uma fresta para que ele voltasse a dar. A berma da estrada reapareceu e o mundo voltou a ter infinitos além dos poucos metros daqueles últimos momentos. Imenso — espantei-me. Como pode ser? — o meu coração descompassado. Acertei os pés com o bater da realidade e vim embora menor do que eu tinha ido. Ou foi o mundo que cresceu enquanto eu, sem querer, enevoava-me. Não sei. Não se explica um mistério. Senão deixava de o ser — o que é impossível num mundo onde haja homens e névoas.
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