Não tens vergonha de ainda não teres ido à Lisboa? perguntou-me o meu anjo da guarda, talvez (essa vozinha de dentro da gente). Respondi que não, não tenho, mas menti. O raio do anjo riu-se. Então fiz-lhe um pecado gestual e ele pôs-se sério (não sei se a vozinha é mesmo angelical, por isso a ousadia). E aí quem se riu fui eu. Mas sisudei logo, ressabiado com a mudez do anjo. Um segundo, dois, três; caímos na gargalhada, que alívio. O anjo disse vou te arranjar uma ida à Lisboa, não tens vergonha de nunca teres ido? Pensei, em surdina: que coiso de anjo chato, meu Deus, só tinhas esse? Mas ao dizer meu Deus ele sumiu. Escafedeu-se. E então continuo sem saber quando vou à Lisboa.
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