Uma taça de vinho em teu nome. Vinho tinto, que é da cor do que eu ia te dizer e não disse. Fui sempre adiando. Mas não te importes, eu já deixei o destino sem resposta outras vezes. Bateu-me à porta e não fui atender. Uma, duas. Mas o destino sempre espera um pouco, geralmente ali, na varanda — tantas vezes, meu Deus —, sentado nas escadas, a olhar para a aldeia até o limite da exaustão, à espera de um ato que não chegou a ser porque eu não quis disparar um pequeno gesto em determinada direção. Uma taça de vinho tinto. Vinho maduro, como penso ter sido todas as vezes que neguei uma possibilidade por prever que ela tornar-se-ia em um impossível mais adiante. Em mim, tudo é simples. Quase. O mundo é que não. Sempre. Então, esta taça, esta única taça de vinho tinto (que é da cor do que eu ia te dizer e não disse — ainda? nunca mais? já não sei), esta pequena dose, bebo-a em teu nome. Brindo ao teu silêncio, que é todo ele inocente. Por não saberes da cor que vou beber, aqui, da porta para dentro — o destino ainda lá fora? —, por não haver uma outra taça e então eu ter de duplicá-la diante do espelho mas preferir assim. No entanto, vejo no reflexo dos meus lábios a mímica involuntária do teu nome. E sinto vazar mil razões para ter respondido ao destino. Mas agora? Já não tenho certeza. Acho que já se foi. Talvez. Faz imenso silêncio lá fora. Olho para a taça de vinho. Quem sabe? Mas nem pensar, eu é que não vou lá ver se sim ou que não. Um brinde. Tim... E só.
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