terça-feira, 4 de março de 2014

O Padre Velho

— Não passamos fome, mas também havia o Padre Velho que nos ajudava muito.
— Como era o nome desse padre, vó?
— Padre José, e era muito bonito. Tenho uma foto dele dentro de um livrinho da missa que ele me deu. Olha que me lembro de ser muito pequena, tão pequena que nem chegava na fechadura da porta, e o meu tio, ai ai, trouxe para casa algo que o padre lhe tinha dado e ouvi ele chamar um nome que parecia o meu (Céu Céu) e aí fui correndo, pequenita, toda contente de ser uma prenda, mas quando cheguei lá ele estava era a chamar o cachorro (chiu chiu). Ai ai.
— Como era o mesmo o nome do padre, vó?
— Estás a perguntar muito esse nome. Se calhar vais contar aos outros. Até hoje não me entra na cabeça como se pode escrever naquele coiso e todo mundo ver no coiso deles.
— Facebook.
— Porra! buqui… Hoje em dia há tanta coisa que já não posso dizer os nomes.
— Vou pôr no Facebook, mas até lá já esqueci de um monte de coisas do diálogo. Não quer que eu escreva esta conversa lá?
— Por mim… Mas se me perguntarem se fui eu que disse essas coisas digo logo que não.
— Aí vão pensar que eu inventei, vó.
— Eu tenho 86 anos, estou velha. Se disserem que inventaste, dizes que eu disse isso aí sim, mas como eu já estou meio caduca não me vou lembrar de o ter dito. Diz que é da idade. E aí ninguém vai estar a mentir.

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