Os domingos eram tão bons quando as ruas ficavam vazias e cheiravam a churrasco familiar. Gente nos terraços, lá no alto, em meio à fumaça das churrasqueiras. Copos de plástico sobre os muros. Risos que sobressaiam por cima do mormaço e que de vez em quando escapavam dois ou três andares até o chão. Eram domingos de sol relaxado, de cigarras protagonistas aplainando silêncios, ausência de trânsito, todas as lojas fechadas. Da janela eu via os carros dos familiares chegando com travessas enroladas em panos de prato de domingo, os homens com engradados de cerveja nos ombros, crianças engomadas, de meias brancas até quase o joelho, fitas nos cabelos das meninas, meninos de cabelo lambido em franjas de lado. E a dona da casa que vinha abrir a porta com um copo de cerveja numa das mãos e uma coxa de galinha na outra, dedos e lábios lambuzados. O abraço cuidadoso para não sujar ninguém, dois beijos fictícios, só estalos, sem toques, sorrisos de adultos, timidez de dois minutos das crianças. Eram domingos tão bons. Essa gente toda em churrasco e cervejas e convívio. Não havia internet nem telefones móveis. Só gente de carne e osso, e peles, olhos, lábios. Até para se ser estúpido e mal educado era mais difícil, pois havia os olhos e os punhos do outro ali na frente. Domingo que tive de ir buscar à memória nesta tarde sem cigarras. Nesta tarde sem o cheiro de sal grosso de outros tantos domingos.
Sem comentários:
Enviar um comentário