Eu vinha pela estrada e então reparei que ao longe as montanhas espremiam um cinza líquido que escorria até encharcar as minhas pegadas. Não vi o horizonte no futuro do meu caminho. E senti saudades do mar. O som das ondas enganadas pelo vento e que vão dar com a boca escancarada às pedras; a verdade da areia a vazar por entre os dedos da mão e tu «Vês o tempo passar?» e «Sim», é claro que eu respondo que sim, o que eu havia de dizer? E o nosso acordo com a humanidade inteira apesar da mentira? Eu sei que todos sabem. Fingem que não até o limite, mas sabem: o tempo já passou, sempre, e para sempre… É claro que só nos damos conta do tempo quando ele já se tornou passado, quando já não adianta mais e a areia já se espalhou novamente pela praia e as mãos vazias erguidas no ar e onde o tempo? e onde nós os dois? a minha boca de encontro às pedras, o mar escuro aos gritos, eu tento me agarrar à linha do horizonte e os meus dedos, onde estão os meus dedos? Recompõe-te! o que estás a dizer? Não digas. Era da saudade do mar que contavas. Do aperto das montanhas e da falta que senti de ver uma linha na distância eterna do horizonte e de chamá-la pelo nome e não ser mentira. Do mar, sim. Mas não, eu não entro de corpo inteiro. Não. Eu só consigo molhar as pontas dos olhos. E já é muito que o meu medo não é pouco, senão eu partia desde a areia e com um só salto… Não. É claro que não. Não é preciso tanto. Eu posso ficar daqui e ir com a imaginação até onde o tempo não me alcança.
Sem comentários:
Enviar um comentário