Pego um cigarro e o isqueiro para ir à varanda fumar e o Farruco põe-se atrás de mim na posição de vou te seguir. Por vezes tento enganá-lo e fico estático, a ver o que ele faz. Não faz. Se eu giro sobre os pés, ele dá a volta para consertar a posição. Não olha para cima, só para as minhas pernas. Depois, eu abro a porta e ele sai comigo; eu sento num degrau, ele ao meu lado. Então eu fumo. Quando termino, ele encosta a cabeça no meu braço e não diz quero carinho, mas eu entendo. Faço. Sinto o seu pêlo gelado que o frio está de corte, mas ele não se importa. Se o deixo aqui dentro e saio sozinho, ele chora com o focinho junto à porta a não dizer abre que eu vou contigo, mas eu entendo. Quando eu abro, ele corre a fazer sons de alegria e dá grandes saltos de fidelidade enquanto eu faço chiu! tem gente a dormir. Mas agora quem está a dormir és tu, Farruco. Vejo uma sombra enrolada na tua cama junto à lareira. Dorme, cãozinho. Eu vou sair na ponta das meias e ver se não acordas, mas antes tenho de contar aos meus amigos:
— O meu cão é um amor de pessoa.
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