segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Um sorriso de segredo bom de guardar

Se o céu de hoje tivesse menos nuvens, era capaz de não te ter visto. Forcei os olhos de encontro a uma sombra que se movia e descobri que a sombra tinha um nome: o teu. Nome feio mas que condiz com os teus movimentos bruscos, com o teu balançar sem jeito de quem não aprendeu o poder do andar de dança das mulheres. Não sabes dançar, apesar de já seres mulher há tanto. Sentei-me sobre um muro de pedras com o cemitério às costas e ao fundo, no limite entre dois mundos. No de cá, estavas tu. E continuavas no teu caminho. Vi encolher a tua sombra sob a força e o peso da distância. Ou os meus olhos é que não bastam para enfrentar um pequeno horizonte como o teu? Vai. Segue nesse desengonço que é tão teu. Ou bem não teu, mas o único em tua posse para uso público. Se calhar, danças às escondidas. Acertei, não é? Acertei, pois tropeçaste numa pedra que daqui não vejo. Hoje deves ter a casa vazia e a tua pressa não é de não saber andar na rua, nem de não conhecer a mágica feminina. Não. É que já deves estar atrasada para o teu espectáculo diante do universo que também se chama solidão grande. Podes ficar sossegada, não conto a nenhum dos teus. Só aos meus. Eles não sabem de ti. Mas vamos todos bater palmas quando as cortinas da sala voltarem a se abrir no fim da tua dança. Vais ter um sorriso no rosto que eu sei. Um sorriso de segredo bom de guardar.

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