Já ouvi uns três gosto muito de ti entre as pessoas no café, já vi abraços natalícios, votos de boas festas, mas eu ainda não entrei no clima, pois está aqui aquele miúdo que fica pendurado no meu ombro direito a fazer uma pergunta para cada dia do ano que ainda vai vir e a pôr a cabeça na frente do meu ecrã. E enquanto escrevia isto, ele pegou um Bolo Rei que estava na mesa de umas pessoas que não conheço e o pôs em cima do meu portátil.
— É teu?!
— Não, não é. Vai por isso lá de volta que as pessoas já estão a pensar que eu é que te mandei pegá-lo.
Mas ele não foi, pôs-se a rir e saiu a berrar por entre as mesas do café enquanto a mãe tentava domesticá-lo sem sucesso. Eu é que tive de ir até a mesa devolver o Bolo cheio de desculpas
— Não conheço o puto, desculpem-me
e quando voltei à minha, ele já tinha posto em cima todos os porta-guardanapos do café. Tento demonstrar com um olhar sério à bela mãe do miúdo o meu incómodo, mas ela, coitada, nem dá por mim e está a olhar para a parede pois já deve ter aprendido a abstrair-se da realidade em torno para a boa manutenção da sanidade maternal. E então o miúdo vem novamente na minha direcção com os olhinhos muito sérios. Pára do meu lado e diz
— Sabes que eu gosto de ti?
e dá-me um beijinho na bochecha direita enquanto abraça-me todo torto, quase a me derrubar da cadeira.
Dou-lhe um beijinho na testa e despenteio o seus cabelos já com uma lágrima quase a vazar a minha estupidez olhos abaixo, mas seguro-me bem e nem sei o que lhe dizer mas digo
— Feliz Natal...
e então ele põe no rosto um sorriso de Menino Jesus e diz adeus com uma das mãos, enquanto dá a outra à mãe que passa pela minha mesa para o levar embora.
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