segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Um livro que voa

Café cheio. Tive de me sentar à mesa dos outros, pois a minha estava ocupada. Não é minha, finjo que é. E fingir é poder. Se eu entro e aquela mesa está ocupada, os de costume põem-se logo a piscar olhares de interrogação uns para os outros como se eu fosse um chefe do tráfico ansioso por metralhar os atrevidos. Mas as duas mulheres levantam-se e vão-se embora (fingir é poder) e rapidamente lanço a girar pelos ares o «No Meu Peito Não Cabem Pássaros» e o livro voa sobre quatro cabeças brancas e pousa no limite da mesa num estalo de autoridade. Um minuto de silêncio e todos os olhos a torcer pela queda do livro, mas não. Em seguida o burburinho retorna, a máquina recomeça a moer os grãos de café e as chávenas tilintam enquanto vão sendo arrumadas nos devidos lugares da mesma forma que eu já me pus arrumado no meu.

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