quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Uma pretendente para o Farruco

Farruco? Estás em casa? É claro que estás. Eu é que não, mas sei que levantaste as orelhas para a súbita audição imaginada. Minha avó já reparou na tua cabeça a girar para sintonizar melhor a minha transmissão e deve ter dito: «Este cão não é normal...» que é o que eu digo se fazes das tuas. Estás em casa, não podia ser diferente. Deste-nos a tua liberdade em nome do amor. É a única maneira de ser livre. Chamei-te aqui por ter visto uma cadela que te fazia jeito. Eu vinha pela estrada calçado com os meus passos apressados por causa do frio, quando a avistei. E parecia contigo. Fiz-lhe umas festinhas na cabeça e disse-lhe: «Se eu pudesse, levava-te para casa e o Farruco vivia para sempre», mas não posso. Hei? Não adianta esse ensaio de choro, Farruco, nem esse suspiro enquanto mudas de posição na tua cama ao pé da lareira. És um folgado, todos sabem. Agora a minha avó deve ter dito: «Às vezes esse cão mete-me medo, cruzes!» e sorte tua que ela nem imagina esta conversa, senão punha-te logo na rua. Tu, a tua dama e a fileira de Farruquitos daí até o entroncamento. Um dia hei-de contar a história da tua aparição e todos vão entender que parece frieza, mas não é. Por hora continua aí encolhido que já despachei a pretendente. Continua aí a olhar para a lenha a arder e dá-te por satisfeito. Um dia, quem sabe?

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