Vi-te primeiro de soslaio por causa da tua mão no ar a espantar a distância, a abrir um espaço de comunicação até onde eu estava. O que me chamou a atenção foi o teu sorriso e os teus olhos bem abertos, como se já conhecessem os meus. E então. Travaste os passos e vieste na minha direcção. Desejaste-me boa tarde, tudo bem? como vais? e respondi-te que sim, vou bem e tu? apesar de. É que não me recordo do teu rosto, da tua voz, nem do que talvez eu devesse lembrar. Sonhamos um com o outro? Estou certo de que poderia sonhar contigo. Tens uma beleza do tamanho dos meus sonhos. Se calhar, pensei, confundiste-me com outro cromo do teu álbum da memória. Eu ia te contar do engano, mas desisti. Ao menos a beleza que trouxeste contigo, essa eu conheço bem. Até que. Perguntaste-me sobre alguém que deveria ser comum a nós dois. Era uma chata de uma terceira pessoa que não tinha nada que fazer ali. Foi ela quem te revelou: confundiste-me com alguém que não vias há muito. Perdoei-te a confusão, mas fiquei com ela para mim. E enquanto retornavas ao teu rumo, e sem graça fechavas com a mão de adeus o espaço que tinhas aberto, que era onde agora eu ficava em definitivo, pus-me a pensar: esse amigo do meu sósia, além de chatíssimo, deve ser muito burro para não te dar notícias.
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