domingo, 5 de fevereiro de 2012

Vou dar à luz uma pequena alegria

Olha para este céu cinza a descolorir a aldeia... O chão está tão húmido. Mas eu não vi a chuva. Não vi muitas coisas. Está frio. É preciso retorcer os olhos e apertar os passos, o que faz com que eu perca a noção exacta da distância. O tempo estagnou; e hoje só houve dia e noite, sem meios-tons. Eu continuo meio qualquer coisa. Se calhar, olhavas para mim espantada a procurar meus meios-tons, a me deixares sem graça por não ter cor alguma comigo para oferecer-te. Mas espera… Eu não sabia: tenho uma pastilha elástica no bolso do casaco. Está aqui. Calma. Está no centro da minha mão fechada. Vou abrir, vou dar à luz uma pequena alegria. Estás a ver? É vermelha! E de agora em diante toda a paisagem vai convergir para a palma da minha mão. Não vou tornar a fechá-la, nunca mais. Gostei imenso de ver um ponto colorido multiplicado aos pares dentro da nossa retina. Então resolvi oferecer-te uma imagem para que te lembres de que é preciso muito pouco para fazer nascer um sorriso, ainda que seja num dia cinza com este: basta ter todas as cores dentro da imaginação. E por fora os olhos bem fechados, sem frestas por onde entrar a tristeza.

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